Sejam bem-vindos ! O objectivo deste blog é divulgar Artistas Portugueses que se enquadrem no movimento artístico contemporâneo, tendo como principais ferramentas de expressão: a Pintura ( meio que o blog privilegia), Desenho, Escultura, Instalação e Video-Art. O critério de selecção está directamente relacionado com o Conceito, Qualidade e Criatividade dos artistas, independentemente de estes serem conceituados ou não, no entanto a escolha tem como prioridade a selecção de artistas pouco conhecidos e por descobrir,mas que demonstrem uma verdadeira paixão pela arte, não esquecendo é claro a qualidade das suas propostas criativas.

....Arte Contemporánea por Artistas Portugueses....

...Contemporary Art by portuguese Artists....

02 abril, 2011

Patricia Mendonça


"untiled",  Oil on canvas, 125x90 cm, 2010
 
 Após um breve período de hibernação, que tem como principal razão o meu envolvimento como artista, numa nova, mas já antiga expressão plástica que é a Arte Postal, (http://artinthemail.blogspot.com/) que aqui  uma vez mais gostaria de divulgar, pois sua obscuridade como movimento artístico ainda se encontra num estado muito débil em Portugal, que espero futuramente despertar um maior interesse perante todos os que gostam de criar, independentemente de estarem ou não ligados à Arte em geral ou à Arte Contemporânea.
 Perante esta curta paragem, Lvsitanic Art retoma à sua actividade com o despertar primaveril, provavelmente o novo artista que se irá falar, não tenha muita ligação com a floração do novo e contínuo ciclo da Natureza, diria antes, que mais se aproxima de um estado invernal.
 Patrícia Mendonça explora em sua íntima pintura, sentimentos latentes e suprimidos onde as emoções transbordam inexoravelmente o mundo interior do subconsciente, que se reconhece metaforicamente com o licantropismo, e a melancolidade das névoas figuras por si criadas, que tanto podem ser humanas ou objectos, sendo descontextualizados de sua materialidade, surgindo assim imagens, que assombram o observador e os próprios elementos da composição. A tensão criada em sua pintura, fortemente sentida em suas pinceladas expressivas, onde o empaste e o relevo da tinta de óleo, contribuem intensamente para um duelo entre a figuração sentida e a abstracção involuntária, recordando-nos por vezes o mundo pictórico de Marlene Dumas, que terá sido no passado denominado entre si e  outros artistas como "Wild Painting", indo de encontro ao universo da natureza animal e ambígua das obras criadas pela artista aqui divulgada.

23 janeiro, 2011

Joaquim Lourenço


"...",  Acrylic on paper, 70x50 cm, 2009

 Ao longo da história da arte, muitos foram os meios explorados pelos diversos artistas, com o intuito de celebrarem a sua criatividade, e de divulgarem suas obras perante o público e meio artístico. Eis que surge então, na década de 60, o movimento designado por Mail Art ou Arte Postal, que tinha como principal vantagem o poder de ser auto-suficiente, no caso das Artes Plásticas, permitia fugir ao circuito das Galerias de Arte, local onde nem sempre oportunidades de exposição existem. Os artistas conseguiam assim que o seu trabalho ou parte dele, fosse apreciado a uma escala internacional sem barreiras e burocracias, criadas pelos locais normalmente vocacionados para a sua exploração. Para além do factor de troca de correspondência entre artistas, a Arte Postal permite a criação de uma rede de contactos onde experiências podem ser partilhadas. O mesmo movimento, continua actualmente bem activo, por vezes poderá ser conectado como outsider ou alternativo, no entanto, muitos artistas o mantém, como era o caso de Ray Johnson's um dos seus principais impulsionadores, sendo também  uma das actividades do artista em questão que se irá falar.
 As obras de Joaquim, movimentam-se na apropriação de imagens, muitas delas gravadas no nosso subconsciente colectivo, que tanto divagam pela modernidade ou pelas clássicas temáticas associadas ao retrato, natureza morta e paisagem, ou no seu oposto à experimentação plástica, criando composições poéticas que dialogam com o observador,  repletas de manchas que elucidam alegria e reflexão, fundindo-se de forma equilibrada com os retalhos figurativos utilizados na sua construção.
 No seu conjunto as obras irradiam algo de etéreo, aproximando-se das desconstruções dos sonhos e de sua ténue mas viva presença, recriando um universo paralelo com codificações e descontextualizações dos ambientes apresentados, que nos transportam nostalgicamente para outros tempos, ou nos afixam na realidade citadina actual, onde a cultura é valorizada mas nem sempre apoiada.

21 dezembro, 2010

Inês d'Espiney


"...",  Acrylic on wood, ...x...cm, 2010

Na criação artística contemporânea, sempre existiu uma apropriação da tradição clássica, e de etnicismos  artesanais, artísticos e sociais de diferentes culturas e tribos, sendo meios de clara inspiração e criatividade, que atraem novos artistas nas suas abordagens plásticas. A arte Aborígene, Indiana e Africana, são bons exemplos deste retomar de enraizamento intemporal, subjugando com um reinventar destas referências antropólogas, sendo um retorno discreto do homem às suas origens, e às concepções animistas da Natureza.
 Inês d'Espiney manifesta em suas obras, onde se destaca a pintura, uma atracção pelo primitivismo tribal, principalmente de cariz africano, fundindo-se em simbiose com a Arte Bruta, resultando numa linguagem de forte carga expressionista, onde a cor tem um papel predominante na interpretação de seus conteúdos. Neste deambular colorido, tematicamente a figuração surge com representações faciais, diria antes bustos, que se inserem numa mescla de pinceladas soltas, superficiais e carregadas de matéria, surgindo em sua superfície acidentados relevos, que dinamizam as composições estilizadas.
 As figuras encontradas nos trabalhos da artista, revelam-nos um mundo marginal e dogmático, alegoricamente positivo e com grande pretensão humanista, que não invalida ser uma certa crítica social mascarada, relativa às deficiências e desequilíbrios da sociedade moderna, que se acentuam cada vez mais.
 A artista em questão, poderá se inserir igualmente a nível de expressão plástica e  ideologia, com outro artista já aqui divulgado no blog (Cartier), onde ambos, se aproximam dos mundos pictóricos de artistas alemães bem conhecidos, tais como André ButzerJonathan Meese ou o americano Jean Michel Basquiat, no entanto, convém salientar que estes artistas lusitanos, exploram o seu próprio caminho, diferenciando-se dos referidos.

19 dezembro, 2010

Filipe Matos

"A procura...",  Acrylic and Enamel on paper, 140x150 cm, 2010

 A descontrução do mundo real nas artes plásticas, são abordagens muito familiares na arte contemporânea actual, sendo os mais diferentes mediums utilizados para a sua abordagem. A linguagem plástica na pintura, tem um papel determinante neste conceito de ideias, que destabilizam o senso comum fragmentando,  assimilando informação e conceitos abstractos, que dinamizam o pensamento intelectual, reafirmando assim, o homem como um ser que se distingue dos demais.
 Provavelmente esta abordagem analítica das questões universais, tornam o homem distante de toda a grandeza que o rodeia, no entanto, aproximam-no do entendimento geral do funcionamento e da sensibilidade cósmica, onde a sua presença é simplesmente microscopia.
 Os trabalhos de Filipe, exploram o espaço estrutural da construção edifícia e de sua visibilidade conceptual no entendimento de seus habitantes, recriando objectos residenciais e de conteúdos, que visualmente preenchem requisitos anormais do entendimento lógico que temos deles. Dentro desta visão de aspectos ,que se desconstroem ciclicamente e se recompõem, avistamos os peões deste jogo figurativo, sendo eles habitantes provisórios de suas próprias construções, que tanto remetem-nos para o monumental, tecnológico ou rústico.
 A exploração do que é incerto,oculto e fora de contexto, surge-nos também  em diferentes perspectivas  pelo artista, onde este explora imagens habitadas por anónimos sem rosto, que se deslocam pelas referências políticas ou comercias, demonstrando assim uma clara crítica social . No entanto, esta temática compatibiliza-se com a exploração construtiva anteriormente referida,  pois ambas caminham pelo entendimento do processo artístico, em que os elementos associados à construção civil ,se sobrepõem nesta apropriação de factores sociais, invocando discretamente o pensamento plástico na arte, e o lugar que ela ocupa na sociedade geral.
 Tecnicamente as obras deste artista, utilizam fundamentalmente o desenho e a pintura,  onde cores opacas e sujas, de forte expressividade plástica, ganham vida no fundo branco ,que compõem a própria composição dos trabalhos,  criando assim uma certa sensação de inacabado, propositadamente criada.

15 dezembro, 2010

Inês Amaro


"Cães em paisagem espelhada",  Acrylic on canvas, 80x60 cm, 2010

 Independentemente das diferentes expressões linguísticas, que vão surgindo actualmente no mundo da contemporaneidade da arte, e dos novos mediuns, onde proliferam cada vez mais abordagens tecnológicas, o figuracionismo na pintura, irá se manter sempre como um elo de apropriação artística. Poderá este nem sempre estar associada às novas tendências de exploração contemporânea, no entanto, seu conhecimento e prática, deveriam ser sempre uma das estruturas basilares para a criação e evolução de um artista plástico, que nunca deveria esquecer as origens primárias da arte.
 Inês Amaro sendo uma convicta da figuração na pintura, explora em suas obras de médio formato associações de dualidade, onde as composições adquirem simetrias de construção, ou porque não projecções que  espelham o seu congénere. Nestas abordagens pictóricas, que tanto nos transmitem senso de harmonia ou introspecção, auxiliados pela organização do espaço e dos elementos da pintura, deparamos-nos com a apropriação de um grande sentido de cor e de formas estilizadas ,que muito se aproximam de silhuetas, no entanto coloridas.
 No seu todo, as obras de Inês, pragmatizam-se claramente por uma certa afinidade com a temática paisagística e surreal, já encontrada em antigas pinturas, onde predominava uma certa nostalgia e melancolia, adensada por uma certa monocromática tendência plástica, onde figuras, provavelmente familiares da artista, contemplavam-se em situações fotográficas usuais, onde o desmembramento corporal criava um halo de mistério. Esta mesma aura de neblina mística, surge em seus mais recentes trabalhos, no entanto as cores seleccionadas remetem-nos para um mundo mais colorido, em que o conjunto de toda a figuração,  elucide-nos vagamente para uma interpretação que poderá ter alguma carga política e social, como por exemplo a igualdade entre povos e raças, ou mesmo uma certa tendência sentimental e verdadeira pelos direitos dos animais.
 A simplicidade e a profundidade sensitiva,  são provavelmente os adjectivos adequados para definir a artista em questão, pois nem sempre a parafernália de tecnicismos artísticos e complexas composições, conseguem ter um resultado final de qualidade expressiva.

13 dezembro, 2010

Paulo Barros


" s.t ",  Mix Media on target (alvo), diameter 120cm, 2010

 A experimentação técnica e visual, sempre acompanharam o processo individual de cada artista na procura de sua identidade criativa, esta metodologia de erro e acerto, independentemente das influências externas,  é fundamental na descoberta de uma linguagem própria,  onde cada obra adquire no seu conjunto uma personalidade única que associamos a um determinado artista, mesmo que este não seja mencionado como o autor da mesma. Este caminho de descoberta pessoal, não nos irá surgir como é óbvio, num curto espaço de tempo, tal como na evolução biológica,social ou científica, várias etapas tiveram que surgir, para que o conhecimento fosse aprimorado.
 Paulo Barros sendo um artista em evolução, apresenta-nos criações que se poderão repartir em três áreas de criação, na sua primeira abordagem encontramos a pintura e o desenho de tendência ilustrativa, com influências psicadélicas na composição dos vários elementos ornamentais, claramente inspirados por  elementos do mundo natural , onde o arranjo caótica das formas nos transportam para a sua unicidade. Neste mesmo contexto de exploração de naturística, que se poetizam em imagens, surge-nos um outro processo de criação,  paisagens de âmbito abstracto ou minimalista, que manifestam harmonia ou energização, sendo em algumas delas utilizado determinada experimentação, que influência directamente a abordagem seguinte.
 O trabalho global do artista, adquire maior potência de interacção com o observador, na sua terceira secção criativa,  neste novo processo, surge uma fusão com as anteriores apresentações, criando assim uma linguagem que se apropria ciclicamente de uma mutação de diferentes estudos e esboços, que se reciclam  em matéria plástica, onde a técnica da colagem actua de forma crucial nestes novos conteúdos, que se acidentam entre si, criando composições imersas de aparos e fragmentos, remetendo-nos para um caos, onde a ordem tenta proclamar a sua autoridade, no entanto, esta é subjectiva, pois a desordem não omite totalmente a sua fraqueza, resultando simultaneamente numa abstracção visual e figurativa, onde estilhaços de diferentes tempos passados e etapas , se conjugam num todo, criando uma nova obra.
 A exploração será provavelmente o adjectivo que melhor define este artista, em que a sucedância de camadas de gostos pessoais e individuais, se associam a uma glorificação e admiração pelos diferentes aspectos da vida, quer sejam eles positivos ou de menor negação.

09 dezembro, 2010

Cristina Perneta


" Energia Vital ",  Instalation with heather (urzo), 2010

A Natureza sendo soberana, violenta e bela, sempre vitalizou e inspirou criativamente artistas de todo o mundo, nas mais diferentes épocas. O próprio homem primitivo, reverenciava todo explendor de "Gaia", e  seu poder inquestionável, que lhe permitia a sobrevivência, prestando-lhe assim inúmeras formas de agradecimento com rituais específicos, o mesmo aconteceu artisticamente, criando pinturas rupestres e esculturas arcaicas em seu nome.
 A veneração e submissão intrínseca pelo Natureza, repleta de fauna e flora, reflectio-se ao longo da história nas mais diversas artes, o desenho e a pintura foram uma delas, onde o movimento Impressionista teve muitos naturalistas, que exploravam tematicamente em suas pinturas os elementos da paisagem. O culto pela Natureza toma novos caminhos na década de 60, no auge da Flower Power, surgindo aqui o movimento artístico designado por  Land-Art, que viria a causar um grande impacto na arte moderna, surgindo pela primeira vez uma linguagem ecologista e ambientalista nos conceitos artísticos, sendo estes mesmos factores que inspiram a artista que iremos falar.
 Cristina Perneta é uma artista multi-facetada, que explora diferentes meios e técnicas de expressão, todas as suas obras sejam elas pintura, desenho, fotografia ou instalação, tem um dominador comum, a sua paixão profunda por "Natura", sentimento este que pessoalmente também me aproprio. Os trabalhos criados pela artista, exploram visualmente a figuração orgânica, sendo muitos deles construídos com materiais provenientes da própria Natureza. Toda a sua obra pretende criar um elo de contemplação entre o observador e o mundo natural, direccionando-o para uma consciência ambientalista e um sentimento profundo quase religioso. Esta religação com a entidade divina da própria natureza, é algo que à muito se perdeu, tendo a revolução industrial contribuído para tal, tornando o homem moderno num ser apático e frio, vazio de sentimentos com a plataforma onde habita e do qual sem ela não sobreviveria, algo que os seus   seus antepassados respeitavam profundamente.
 Finalizando, poderemos dizer que a artista cria com o objectivo de exorcizar, no bom sentido, as suas mais profundas afinações com a beleza que lhe rodeia, remetendo-nos assim para o ciclo natural de energia telúrica e divina.

24 novembro, 2010

Bruno Balegas


" Package ",  Coal on paper, 100 x 70cm , 2010

 O retrato artístico, para além da paisagem, pode-se considerar o mais intensamente representado em toda a história da Arte, afirmando-se como género autónomo no século XIV, após ter sido utilizado por outras civilizações antigas com finalidades diversas, desde comemorativa, religiosa ou funerária. Historicamente a difusão retratista sempre acompanhou a realeza da corte e da burguesia, sendo consideradas aquisições de luxo por seus proprietários, dando ao artista um estatuto muito nobre.
 No princípio do século XX, uma reviravolta surge no retrato clássico da pintura e escultura, provavelmente muito pelo aparecimento da fotografia, obrigando assim os artistas a descobrirem novos caminhos para a prevalência do género, movimentos como o Impressionismo e o Cubismo contribuíram muito para as experimentações dos artistas contemporâneos, onde Chuck Close, poderá se considerar um dos mais representativos.
 As pinturas e desenhos de Bruno Balegas, divagam pela figuração do rosto, não sendo retratos, também não recusão a sua fonte, seus trabalhos tendem a explorar a expressividade e personalidade oculta dos indivíduos anónimos, surgindo-nos com rostos fantasmagóricos e cadavéricos, muito salientados pela plasticidade cromática da cor branca, cinza ou negro, renegando assim restantes cores que possam atribuir uma aura alegre dos planos gerais de sua pintura. Esporadicamente utiliza o vermelho ou violeta, que adensam a atmosfera misteriosa e pesada de suas obras, no entanto, não devemos conectá-las com um negativismo pré-concebido, mas antes, como entidades que coabitam entre nós, ou seremos nós que vivemos nelas...?!
 O expressionismo contemporânio que atribuímos aos trabalhos de Balegas, principalmente em obras mais recentes, onde os rostos retratados metamorficamente desvanecem o reconhecimento dos mesmos, aproximam-se vagamente das faces criadas por Francis Bacon, após esta afirmação não deveremos claro depreciar o seu trabalho, trata-se somente de um certo " déjà vu" momentâneo.
 Os caminhos explorados pelo artista, pretendem assim direccionar-se para a interiorização do "eu", considerando a imagem que entendemos que temos, mas que simultanemante nos distância de nós próprios, em que o auxilio de factores externos encontra-se bem presente, criando consequentemente um "eu mitológico".

23 novembro, 2010

Catarina Almeida


" s/t ",  Pen on paper, 14cm x 21 , 2009

 O desenho e a pintura usados simultaneamente como linguagens de expressão plástica num mesmo suporte, tendem a interagir com o observador de uma forma muito particular, os pormenores técnicos de ambos revelam-nos por vezes as etapas de sua construção, tal como a planta de um edifício, que nos regula em toda a sua estrutura. As criações de Catarina Almeida estão relacionadas com experimentação visual, utilizam estes dois meios clássicos de representação artística, no entanto, tendem tematicamente fugir à alienação da figuração. 
 Os trabalhos da artista aproximam-se da obra de Julie Mehretu, artista contemporánea muito conhecida pelos seus trabalhos de grande escala, onde a abstracção desvenda sistemas de difícil descodificação, mas convenhamos, as obras de Catarina, sendo similares em alguns aspectos da artista mencionada, caminham em direcções próprias, as áreas por si criadas, são transportadas para diferentes suportes, que tanto poderão ser papel de engenharia, outras suas variantes ou até mesmo a clássica tela.
 Os sistemas como meios de regulação de fenómenos, orgãos e doutrinas, surgem em suas obras, fazem-nos alusões a condensações unicelulares, ou a mapeamentos de locais indecifráveis. A organização de ambos e seu modo de interecção, revelam acções de globalização e dispersão de suas actividades, o ritmo e a repetição aleatória são valores que poderão ser encontrados no seu conjunto.
 A simplicidade individual e colectiva das formas, é um processo que a artista procura desenvolver, sensorialmente remetem-nos para espaços e universos que ora são microscópios, ou de grandeza disfarçada, devido à sua perspectiva visual e dimensão do suporte. Esta abstracção que poderá ter origens orgânicas ou meramente disfuncionais, não invalida futuras aproximações à figuração pela artista, processo este já utilizado em algumas obras passadas.

18 novembro, 2010

Daniel Figueiredo


" Caminhos Cruzados ",  Woodcut (Xilogravura), 35cm x 50 , 2008

 A gravura sendo um processo artesanal e artístico muito antigo, foi utilizado por vários povos como método de estampagem de tecidos ou até mesmo de impressões em  papel, sociedades como a Egípcia, Indiana, Árabe e Chinesa estão entre elas. Esta mesma técnica, que se poderá dividir em diferentes meios de aplicação e distintos processos, desde a Xilogravura, Monogravura, Litografia, Água Forte etc. sempre foram utilizados ao longo dos séculos como meio artístico, e alternativa às técnicas habituais de desenho e pintura, em que se poderá exemplificar o excelente uso que o Pintor Albrecht Durer fez da mesma, tal como de artistas contemporáneos recentes, Baselitz, Penck ou mesmo Paula Rego.
 As gravuras de Daniel são muito diversificadas a nível técnico, pois o próprio artista explora os diferentes meios processuais na sua execução, no entanto, todas as suas criações tem um dominador comum, a geometria e a figuração encontrada em seus trabalhos, tendem adquirir características similares onde a repetição, ritmo, linha e padrão fazem uma alusão indirecta ao universo orgânico das formas. Por vezes, encontramos em suas obras, representações lúcidas e simples da figura humana, assumindo determinadas posturas relativas a alguma situação, que para nós observadores é nos incerta.
 Futuramente seria de interesse conceptual apreciar em seus trabalhos uma fusão a nível da composição destes dois mundos referenciados, em que o processo matemático das formas preenchesse a figuração, e esta, integrando-se no mundo de seu aliado, revelando-nos assim no seu todo a harmónica e equilibrada complexidade. Independentemente dos caminhos visuais que o artista poderá percorrer, deveremos respeitar e admirar suas escolhas, bem como o uso ancestral das técnicas utilizadas por todos aqueles que mantém a tradição da gravura viva.

13 novembro, 2010

Cristina Troufa


" Mulher ", Acrylic on canvas, 80x80, 2008

 A figura feminina sempre foi um elemento muito explorado no mundo das artes, tendo sido pintura o meio mais evasivo na sua representação. Desde o periódo do renascimento até aos nossos dias, a imagem da mulher foi transcrita de inúmeras formas, sendo as razões de sua escolha muito abrangentes, mas convenhamos, a beleza da mulher sempre prevaleceu em relação ao aspecto masculino, pois em periódos longínquos da história da humanidade, nas sociedades matriarcais, a mesma era representada por divindades que a associavam à mãe natureza, sendo o poder da fertilidade que ambas partilham, considerado um acto mágico.
 Cristina Troufa explora de forma inconfundível o mundo "rosa", diria mesmo que o movimento feminista é reinventado, não de uma forma política, muito pelo contrário, as suas pinturas puramente figurativas levam-nos ao encontro emocional e à sensibilidade da mulher, referenciando e afirmando suas atitudes, memórias, medos ou porque não uma certa nostalgia, onde o discurso emocional de seus rostos e anatomia, partilham o seu espaço com outras figuras animadas, essencialmente por animais, que assumem um papel análogo na interpretação conjunta dos elementos da composição. 
 O retratismo artístico funciona como cunho da afirmação das emoções que afloram gestualmente, dando-nos assim uma perspectiva mais verdadeira do figurino transformado em modelo. A perfecção técnica na execução de suas pinturas, é adicionado com cores puras e claras que são aplicadas como motivos de fundo, direccionando-nos para um hipotético estado de alegria, contrastante com a teatrilidade da cena "impressa" no suporte.
 Provavelmente o trabalho por mim seleccionado, poderá não ser o mais representativo do universo explorado pela artista, a razão para tal, deve-se provavelmente de este mesmo se afastar timidamente de seus "parceiros" pictóricos, tratando-se de uma nova linguagem, que seria interessante explorar futuramente em suas obras, pois a contínua criação das mesmas fórmulas ofusca a experimentação contemporánea, que sabe bem por vezes apreciar.

11 novembro, 2010

Fernando Andrade


" s/t", Acrylic, Enamel, Ink printing machine and Cellulosic Varnish on canvas, 100x120, 2009

 O ser humano é considerado maioritariamente como a entidade que alcançou o maior estágio de evolução, possuindo inúmeras capacidades que vão muito além de outros seres terrestres. A articulação da linguagem, o raciocínio abstracto, os pensamentos e emoções, são apenas algumas de suas espantosas qualidades, no entanto, nem sempre são vinculadas nas direcções mais acertadas, contribuindo assim para a destituição do equilíbrio que deveria ser harmonioso, sendo a essência principal encontrada na Natureza, nas suas mais diversas formas e sistemas.
 Os trabalhos de Fernando Andrade regra geral, para além de outros onde o conceptualismo é encontrado,  seguem um caminho da inconformalidade dos aspectos negativos da sociedade geral onde vivemos, noticiando as agressões físicas, mas acima de tudo mentais ao seu congénere, pois o homem sendo um ser racional, tende a ter acções bem opostas aquilo que deveria prevalecer, ou seja, a empatia e ajuda pelo próximo.
 Palavras bem fortes como o totalitarismo do ego, a subordinação social e o prazer egoísta, sendo ambas com  pretensões lucrativas, indiferentemente de serem materiais ou não, flutuam nas suas pinturas, onde o figurativismo desvanece ao olhar, de encontro a uma representação simples nas suas imagens, no entanto tornam-se bem distintas no contexto que habitam. A exploração técnica de texturas e cores que descobrimos em suas criações,  funcionam como elementos de afixação de sentimentos e estados de alma, que por vezes são difíceis de representar visualmente.

07 novembro, 2010

Joanna Latka



" 4_Oeiras", Indian Ink and Ecoline on card, 100x100, 2008

 Esta nova entrada em Lvsitanic Art poderá suscitar alguma curiosidade, pois trata-se de uma artista de naturalidade Polaca, no entanto, como actualmente reside em Portugal, penso que seja de interesse ser aqui referida. Os trabalhos de Joanna Latka,  na sua primeira impressão dão-nos a sensação de estarmos perante uma artista que divaga pelo primitivismo da arte Naif, ou por uma grande proximidade da Art Brut.
 O figurativismo disfuncional que nos é apresentado, onde as perspectivas visuais e gráficas adquirem valores anormais da nossa realidade, são nos bem familiares, ilustrando e retratando situações comuns que encontramos ao virar da esquina. De um ponto de vista mais analítico, poderemos mesmo referir que estamos perante a documentação das estruturas que nos  envolvem, tal como ainda mais acentuadamente a nossa própria sociedade, nas suas mais diversas situações, onde a própria artista se retrata esporadicamente nos seus trabalhos, sendo ela mais um figurino de suas composições.
 As estranhas figuras caricaturadas no seu espaço envolvente, transformam este mesmo, em locais claustrofóbicos ou até mesmo assustadores, onde simultaneamente a alegria também se encontra presente, dando-nos uma falsa percepção de estarmos perante um traço infantil, mas com uma visão adulta e contemporânea.
 No seu todo, os desenhos criados a tinta da china e com subtis manchas coloridas, transbordam de vivacidade, energia e movimento, palavras estas que as associamos directamente com os centros urbanos ou lugares com uma certa quantidade de habitantes, onde estranhos e por vezes conhecidos, se cruzam diariamente.

02 novembro, 2010

Ricardo Crista


" Crack ", Mix Media on canvas, 90x90, 2010

 O trabalho artístico de Ricardo Crista, tem como principal fundamento, a exploração da composição geométrica e o cromatismo associado à ilusão óptica. As linhas verticais tal como as horizontais, são algumas das formas que prosperam nesta pintura simples mas interessante de associações construtivas.
 Em seus trabalhos mais recentes, nota-se a existência de um certo realismo disfarçado pela abstracção não fundamentada, mas controlada, dando-nos  a sensação de estarmos perante pinturas inacabadas e incompletas, que no seu processo de construção, as linhas criadas com o auxílio de fitas adesivas, delimitam as linhas da composição, permitindo assim o perfercionismo de suas direcções, sem desníveis topográficos. É neste ponto que nos questionamos de sua existência, terão estas fitas sido esquecidas e abandonadas, ou simplesmente esperam a secagem das cores frescas nas áreas adjacentes e fronteiriças?  Após uma observação mais cuidada, descobrimos que as fitas são pintadas de forma hiper-realista, provocando um efeito de trompe-l’oeil, sendo esta uma técnica artística que, com truques de perspectiva, cria uma ilusão óptica mostrando objectos ou formas que não existem realmente.
 Mais um vez nos questionamos a razão pela qual o artista empreendeu tal esforço na representação destas fitas, serão elas os elementos fundamentais que ostentam toda a composição, sendo os alicerces e as juntas de junção das fromas criadas e do seu espaço envolvente, em que sem elas toda a pintura se poderia desmoronar que nem um castelo de cartas? Ou será mesmo a intenção do artista de criar interrogações no observador, que poderão ser caricatas? Seja qual for a razão, uma coisa é certa, a abstração criada, tem assim um valor acrescido de interesse, afirmando assim a razão de sua existência.

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